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As dezoito vítimas do faraó

O único a ficar livre das sucessivas mortes inexplicáveis, foi Howard Carter por estar usando o Anel Atlante

Quando se estuda o mistério dos “santuários”, quando se procura compreender em que consistem as defesas invisíveis que os protegem, é impossível aludir ao menos uma vez ao que, segundo as normas do jargão policial, pode-se intitular “o caso Tutankâmon”: todos os que violaram a tumba deste faraó, exceto um, foram “castigados”. O modo pelo qual se desenrolou cada uma de tais mortes parece indicar que a proteção do santuário continua vigente, transcorridos mais de 3.500 anos, com uma eficácia tão perfeita quão terrível.

Proteção do Anel Atlante e as 18 vítimas do faraó

Evidentemente esta explicação supersticiosa provoca um sorriso dos racionalistas. Para eles, a morte das dezoito presumíveis vítimas da maldição de Tutankâmon só é, na realidade, morte natural. O fato de que essas dezoito pessoas pereceram prematuramente e em circunstâncias estranhas constitui fruto do azar, pura coincidência.

Cada vez que a razão triunfa sobre a superstição, há que sentir-se satisfeito e aplaudir: bravo! Não obstante, e sem ânimo de querer entabular nenhuma discussão a este respeito nem aventurar o menor comentário, parece-me no mínimo interessante oferecer ao leitor a possibilidade de elaborar uma opinião pessoal sobre o caso. Um breve repassar cronológico dos fatos indiscutíveis pode permitir que cada leitor extraia, com toda honestidade, a conclusão que considerar mais oportuna.

No dia 25 de novembro de 1922 é descoberta a tumba de um faraó da XVIII dinastia, Tutankâmon, por dois ingleses: lorde Carnarvon e Howard Carter. A tumba contém “o mais fabuloso tesouro arqueológico de todos os tempos”.

Na entrada da tumba, aparece a seguinte inscrição: A morte roçará com suas asas a quem tocar o faraó.

Seriam necessários dez anos para levar a cabo a inspeção de todas as câmaras do mausoléu e retirar delas a totalidade do fabuloso tesouro. Porém, muito antes de chegar ao término dos trabalhos, já se havia iniciado a hecatombe.

O primeiro nome que encontramos na trágica lista é o de lorde Carnarvon. Em sua agonia, ouviram-no pronunciar repetidas vezes o nome de Tutankâmon, e suas últimas palavras foram: “Acabou-se. Ouvi o chamado. Estou preparado”. No mesmo instante – simples coincidência, evidentemente – apagaram-se todas as luzes da casa. A enfermidade que causou a morte de lorde Carnarvon nunca foi declarada. Os médicos supuseram que sucumbiu a uma picada de mosquito!

Seis meses mais tarde, seu amigo, o coronel Aubrey Herbert, morria, por sua vez, de um mal inexplicável; pouco depois também sucumbia a enfermeira que cuidara dele…

O secretário particular de Howard Carter, Richard Bethell, que foi um dos primeiros a penetrar na tumba, foi igualmente um dos primeiros a morrer.

Um amigo íntimo de Carter, o professor La Fleur, a quem a curiosidade científica levara a Luxor para presenciar os trabalhos, adoeceu misteriosamente duas semanas depois de sua chegada, e morreu. Também morreu o cientista Arthur Mace: depois de ter penetrado nas câmaras secretas do mausoléu, sentiu que as forças o abandonavam e teve de recostar-se – para nunca mais se levantar.

O doutor Evelyn White, célebre arqueólogo que fora um dos primeiros, depois de Carter, a penetrar na câmara onde se achava a múmia do faraó, teve um final ainda mais trágico: enforcou-se. Para explicar seu gesto desesperado, deixou escrito em sua carta de despedida: “Sucumbi a uma maldição que me forçou a desaparecer”.

Outro cientista inglês, funcionário do governo egípcio, Archibald Douglas Reed, recebeu o encargo de radiografar a múmia antes de trasladarem-na ao museu do Cairo. No dia seguinte ao exame radiográfico, Reed se sentiu subitamente enfermo; três dias depois morria. Era homem sadio, de constituição robusta. Ainda se ignora a doença que acabou com ele.

Ante a inquietação provocada na opinião pública por esta sucessão de mortes misteriosas, um alto funcionário do governo egípcio comprometeu-se a esclarecer o caso e para tanto, decidiu encarregar-se pessoalmente das investigações. Não transcorreram muitos dias desde sua chegada ao cenário da tragédia quando, inesperadamente, sentiu-se mal e teve de regressar ao Cairo; poucas horas depois, estava morto.

No total, a lista alcançava dezoito nomes: dezoito pessoas que, sem exceção, de um modo ou de outro, participaram da violação da sepultura de Tutankâmon. A estas pessoas deve-se acrescer algumas vítimas indiretas (se é que se pode chamá-las assim), que jamais puseram pessoalmente os pés no mausoléu, se bem que pertencessem à família de algum dos violadores, ou que tiveram ocasião de tocar em algum objeto sagrado do tesouro. Por exemplo: em 1939, com o motivo de festejar o ano novo muçulmano, a Rádio Nacional egípcia quis fazer seus ouvintes escutarem as trompas de guerra de Tutankâmon. O museu do Cairo concordou em emprestar os preciosos instrumentos, que mantinha encerrados em vitrinas havia dezesseis anos. O veículo que as transportava do museu à rádio teve um acidente e seu chofer morreu. As trombetas não sofreram o menor dano. Minutos mais tarde, o músico que se dispunha a tocar uma delas caía fulminado aos pés do microfone.

Trecho do livro – Ces Maisons Qui Tuent – Roger de Lafforest