{"id":2182,"date":"2015-05-11T20:34:06","date_gmt":"2015-05-11T20:34:06","guid":{"rendered":"https:\/\/anelatlante.com\/?p=2182"},"modified":"2020-01-13T20:10:49","modified_gmt":"2020-01-13T23:10:49","slug":"atlantida-a-verdade-a-luz-de-platao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/anelatlante.com\/atlantida-a-verdade-a-luz-de-platao\/","title":{"rendered":"Atl\u00e2ntida – a verdade \u00e0 luz de Plat\u00e3o"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/h2>\n

A Atl\u00e2ntida narrada em “Cr\u00edtias” por Plat\u00e3o, afirmando a sua exist\u00eancia.<\/h2>\n

O mundo descrito por Plat\u00e3o no Timeu<\/em> e no Cr\u00edtias<\/em>. A ilha de Pos\u00eddon foi representada aqui com cerca de 7,5 milh\u00f5es de km\u00b2 (aproximadamente o tamanho da Austr\u00e1lia), procurando refletir o que Plat\u00e3o provavelmente tinha em mente com “maior que a L\u00edbia e a \u00c1sia juntas”.<\/span><\/p>\n

<\/p>\n\n\n\n
\"AtlantidaMapadomundo\"<\/a><\/td>\nO mapa-m\u00fandi de Hecateu (500 a.C.), mostra a concep\u00e7\u00e3o da \u00e9poca de Plat\u00e3o sobre a extens\u00e3o da L\u00edbia e \u00c1sia (algo entre 6 milh\u00f5es e 10 milh\u00f5es de km\u00b2)<\/p>\n

Segundo Plat\u00e3o, a ilha de Atl\u00e2ntida estava no oceano, do lado oposto \u00e0s colunas de H\u00e9rcules (atual estreito de Gibraltar) e era maior que a Libia (\u00c1frica do Norte) e a \u00c1sia (Menor) juntas. Outras ilhas situavam-se nas suas proximidades e, para al\u00e9m de Atl\u00e2ntida, na margem oposta do Oceano, havia um continente, que “rodea todo esse verdadeiro mar (…), ao qual se pode chamar continente no sentido pr\u00f3prio do termo”. Quando os deuses partilharam o mundo, ela teria sido atribu\u00edda a Pos\u00eddon:<\/p>\n

 <\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

Os deuses lan\u00e7aram a sorte e dividiram toda a terra em lotes, maiores ou menores. Institu\u00edram em sua pr\u00f3pria honra cultos e sacrif\u00edcios. Foi assim que Pos\u00eddon, tendo recebido como quinh\u00e3o a ilha de Atl\u00e2ntida, instalou, em certo lugar desta ilha, os filhos que engendrara de uma mortal. Perto do mar, mas na altura do centro da ilha, havia uma plan\u00edcie, a mais bela, dizia-se, de todas as plan\u00edcies e a mais f\u00e9rtil. E, perto dela, a aproximadamente 50 est\u00e1dios <\/em>(10 quil\u00f4metros) do seu meio, havia uma montanha de altitude mediana. <\/em><\/p>\n

Sobre esta montanha habitava ent\u00e3o um dos homens que, nesse pa\u00eds, eram originalmente nascidos da terra. Seu nome era Evenor <\/em>[\u0395\u1f50\u03ae\u03bd\u03c9\u03c1, “de boas r\u00e9deas”], e vivia com uma mulher, Leucipa <\/em>[\u039b\u03b5\u03c5\u03ba\u03af\u03c0\u03c0\u1fc3, “\u00e9gua branca”]. Deram nascimento a uma \u00fanica filha, Clito <\/em>[\u039a\u03bb\u03b5\u03b9\u03c4\u1f7c, “c\u00e9lebre”]. A jovem atingira a idade n\u00fabil quando seu pai e sua m\u00e3e morreram. Pos\u00eddon a desejou e uniu-se a ela. O deus fortificou e isolou em c\u00edrculo os altos em que ela vivia. Para tanto, fez um cercado de mar e terra, pequenos e grandes c\u00edrculos, uns em redor de outros. Fez dois de terra, tr\u00eas de mar, arredondando-os, por assim dizer, come\u00e7ando a partir do meio da ilha, do qual estavam sempre a igual dist\u00e2ncia. Assim, eram infranque\u00e1veis, pois n\u00e3o haviam ent\u00e3o nem bat\u00e9is nem navega\u00e7\u00e3o. Foi o pr\u00f3prio Pos\u00eddon que embelezou a ilha central, no que n\u00e3o teve dificuldade, sendo um deus. Fez jorrar de sob o solo duas fontes d\u2019\u00e1gua: uma quente, outra fria, e fez crescer sobre a terra plantas nutritivas de toda esp\u00e9cie, em abund\u00e2ncia<\/em>.<\/p>\n

Atl\u00e2ntida era, assim, atribu\u00edda a Pos\u00eddon, deus da navega\u00e7\u00e3o e do com\u00e9rcio mar\u00edtimo, que Plat\u00e3o, partid\u00e1rio da auto-sufici\u00eancia planejada, julgava sup\u00e9rfluo e daninho \u00e0 boa pol\u00edtica, enquanto Atenas era atribu\u00edda a Atena, deusa da sabedoria. Ao mesmo tempo, a ilha \u00e9 dotada em abund\u00e2ncia, se n\u00e3o em excesso, de riquezas naturais capazes de tornar a vida mais que confort\u00e1vel – mas ainda assim seus habitantes a julgavam insuficiente e se lan\u00e7aram a conquistar as “outras ilhas do mar” e as terras do Mediterr\u00e2neo “at\u00e9 o Egito e a Tirr\u00eania”. Detalha o fil\u00f3sofo:<\/p>\n

Pois se muitos recursos lhes vinham de fora, por seu imp\u00e9rio, a maior parte daqueles que s\u00e3o necess\u00e1rios \u00e0 vida, a pr\u00f3pria ilha lhos fornecia. Principalmente todos os metais duros ou male\u00e1veis que se podem extrair das minas. Em primeiro lugar, aquele do qual conhecemos antes, al\u00e9m do nome, a pr\u00f3pria subst\u00e2ncia, o <\/em>oricalco<\/em> (“cobre da montanha”). Era extra\u00eddo terra em muitos lugares da ilha: era o mais precioso, depois do ouro, dos metais que existiam naquele tempo. <\/em><\/p>\n

Paralelamente, tudo que a floresta podia fornecer de materiais pr\u00f3prios ao trabalho dos carpinteiros, o fornecia com prodigalidade. Tamb\u00e9m alimentava suficientemente todos os animais dom\u00e9sticos ou selvagens. Mesmo a esp\u00e9cie dos elefantes era a\u00ed largamente representada. Com efeito, n\u00e3o somente a pastagem abundava para todas as outras esp\u00e9cies, aquelas que vivem nos lagos, nos p\u00e2ntanos e rios, aquelas que pascem sobre as montanhas, e nas plan\u00edcies, mas regurgitava para todos, mesmo para o elefante, o maior e o mais voraz dos animais. Por outra, todas as ess\u00eancias arom\u00e1ticas que nutrem ainda o solo, em todos os lugares, ra\u00edzes, arbustos ou \u00e1rvores, resinas destiladas das flores ou dos frutos, a terra ent\u00e3o os produzia e os fazia prosperar. Dava ainda frutos cultivados, e os gr\u00e3os que foram feitos para nos alimentar, dos quais tiramos as farinhas. Produzia esse fruto lenhoso, que nos fornece conjuntamente bebidas, alimentos e perfumes <\/em>(azeitona), esse fruto escamoso e de dif\u00edcil conserva\u00e7\u00e3o, que foi feito para nos instruir e entreter <\/em>(rom\u00e3), aquele que oferecemos ap\u00f3s a refei\u00e7\u00e3o da noite, para dissipar o peso do est\u00f4mago e aliviar o conviva fatigado <\/em>(lim\u00e3o).<\/em><\/p>\n

Plat\u00e3o conta como a ilha foi partilhada entre os filhos de Pos\u00eddon e Clito, ou Cleito:<\/p>\n

Pos\u00eddon engendrou e criou cinco gera\u00e7\u00f5es de filhos homens, e g\u00eameos. Dividiu toda a ilha Atl\u00e2ntida em dez partes. Ao primog\u00eanito dos g\u00eameos mais velhos, destinou a morada de sua m\u00e3e e o lote de terra circundante, que era o mais vasto e o melhor. Estabeleceu-o na qualidade de rei, acima de todos os outros; fez destes, pr\u00edncipes vassalos e a cada um deu autoridade sobre um grande n\u00famero de homens e sobre vasto territ\u00f3rio.<\/em><\/p>\n

A todos imp\u00f4s nomes: o mais velho, o rei, recebeu o nome que serviu para designar toda essa ilha e todo o mar, que se chama Atl\u00e2ntico, porque o nome do primeiro rei que ent\u00e3o reinou foi Atlas <\/em>[\u1f0c\u03c4\u03bb\u03b1\u03c2, “sustent\u00e1culo”]. Seu irm\u00e3o g\u00eameo, que nasceu depois dele, obteve na divis\u00e3o a extremidade da ilha, do lado das Colunas de H\u00e9rcules, defronte \u00e0 regi\u00e3o chamada Gad\u00edrica <\/em>[\u0393\u03b1\u03b4\u03b5\u03b9\u03c1\u03b9\u03ba\u1fc6\u03c2, “de C\u00e1diz”], por causa desse lugar: ele chamava-se em grego Eumelos <\/em>[\u0395\u1f54\u03bc\u03b7\u03bb\u03bf\u03bd, “de bons rebanhos”], e na l\u00edngua do pa\u00eds, Gadiros <\/em>[\u0393\u03ac\u03b4\u03b5\u03b9\u03c1\u03bf\u03bd]. E o nome que se lhe atribuiu tornou-se aquele do pa\u00eds.<\/em><\/p>\n

Vale observar que Gadiros e Gad\u00edrica fazem referem-se a \u03c4\u1f70 \u0393\u03ac\u03b4\u03b5\u03b9\u03c1\u03b1, G\u00e1deira<\/em>, nome grego antigo da atual cidade espanhola de C\u00e1diz, que deriva do fen\u00edcio \u05d2\u05d3\u05e8, Gadir<\/em>, “muralha”, “lugar amuralhado”, cognato de Agadir<\/em>, nome de uma cidade marroquina.<\/p>\n

Em seguida, daqueles que vieram na segunda gera\u00e7\u00e3o, chamou a um Anferes <\/em>[\u1f08\u03bc\u03c6\u03ae\u03c1\u03b7, “o que leva para cima”], ao outro Evaimon <\/em>[\u0395\u1f50\u03b1\u03af\u03bc\u03bf\u03bd\u03b1, “bem h\u00e1bil, perito”]. Pela terceira gera\u00e7\u00e3o, Mn\u00e9seas <\/em>[\u039c\u03bd\u03b7\u03c3\u03ad\u03b1 , “o memor\u00e1vel”] foi o nome do primog\u00eanito, Aut\u00f3ctonos <\/em>[\u0391\u1f50\u03c4\u03cc\u03c7\u03b8\u03bf\u03bd\u03b1, “da pr\u00f3pria terra”] o do segundo. Dos da quarta gera\u00e7\u00e3o, chamou o primeiro Elasipos <\/em>[\u1f18\u03bb\u03ac\u03c3\u03b9\u03c0\u03c0\u03bf\u03bd, “o condutor de cavalos, o cavaleiro”] e o segundo Mestor <\/em>[\u039c\u03ae\u03c3\u03c4\u03bf\u03c1\u03b1, “conselheiro”]. Na quinta, o que nasceu primeiro recebeu o nome de Azaes <\/em>[\u1f08\u03b6\u03ac\u03b7\u03c2, “o seco, o \u00e1rido, o quente”] e o que veio em seguida, o nome de Diaprepes <\/em>[\u0394\u03b9\u03b1\u03c0\u03c1\u03ad\u03c0\u03b7\u03c2, “not\u00e1vel, distinto”].<\/p>\n\n\n\n
A ilha de Pos\u00eddon foi assim dividida em dez reinos, entre os quais o reino fundado por Atlas, a Atl\u00e2ntida propriamente dita, tinha a supremacia. Cada rei exercia o poder na parte que lhe cabe, mas a autoridade dos reis uns sobre os outros e suas rela\u00e7\u00f5es eram reguladas pelos decretos de Pos\u00eddon. A tradi\u00e7\u00e3o lhes prescrevia isso, bem como uma inscri\u00e7\u00e3o gravada pelos primeiros reis sobre uma estela de oricalco, que se encontra no centro da capital, no templo de Pos\u00eddon.<\/p>\n

Os reis a\u00ed se reuniam a cada cinco, ou a cada seis anos, fazendo alternar regularmente os anos pares e os anos \u00edmpares para deliberar sobre os afazeres comuns, decidir se qualquer um dentre eles cometeu qualquer infra\u00e7\u00e3o e julgar. Quando precisavam administrar alguma justi\u00e7a, atribu\u00edam-se, mutuamente, f\u00e9 da seguinte forma.<\/td>\n

\"TemploAtlantida\"<\/a><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

Soltavam-se touros no lugar sagrado de Pos\u00eddon. Os dez reis, deixados s\u00f3s, ap\u00f3s ter rogado ao deus para lhes fazer capturar a v\u00edtima que lhes seria agrad\u00e1vel, punham-se a ca\u00e7\u00e1-la, sem armas de ferro, somente com chu\u00e7os de madeira e redes. Aquele dos touros que fosse apanhado, levavam-no \u00e0 estela e o faziam degolar em cima dela, como era prescrito. <\/em><\/p>\n

Sobre a estela, al\u00e9m das leis, estava gravado o texto de um juramento que proferia os an\u00e1temas mais terr\u00edveis contra quem o violasse. Depois de efetuarem o sacrif\u00edcio conforme suas leis e consagrarem todas as partes do touro, enchiam de sangue uma cratera e aspergeiam com um grumo deste sangue a cada um deles. O resto, lan\u00e7avam ao fogo, depois de haverem feito purifica\u00e7\u00f5es em torno da estela. Em seguida, tomando sangue com ta\u00e7as de ouro, na cratera, e vertendo-o no fogo, fazem o juramento de julgar em conformidade com as leis inscritas sobre a estela, castigar quem quer que as tenha violado anteriormente, n\u00e3o infringir voluntariamente, para o futuro, nenhuma das f\u00f3rmulas da inscri\u00e7\u00e3o, e s\u00f3 comandar e obedecer em conformidade \u00e0s leis de seus pais. Cada um toma essa obriga\u00e7\u00e3o por si mesmo e para toda sua descend\u00eancia. <\/em><\/p>\n

A cidade de Atl\u00e2ntida<\/strong><\/p>\n\n\n\n
\"Atlantis02\"<\/a><\/p>\n

Planta esquem\u00e1tica da cidade de Atl\u00e2ntida (esq.) e
\ndetalhe dos an\u00e9is centrais (dir.), segundo Plat\u00e3o<\/span><\/td>\n

Depois, bebiam o sangue e remetiam a ta\u00e7a como ex-voto ao santu\u00e1rio do deus. Ap\u00f3s o que, tomavam uma refei\u00e7\u00e3o e ocupavam-se das outras obriga\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias. Quando vinha a noite, esfriado o fogo dos sacrif\u00edcios, todos vestiam belas roupas de azul sombrio e sentavam-se no ch\u00e3o, sobre as cinzas de seu sacrif\u00edcio sacramental. Ent\u00e3o, na noite, depois de extintas todas as luzes em torno do santu\u00e1rio, julgavam e sofriam julgamento, se um deles houvesse acusado outro de ter cometido qualquer infra\u00e7\u00e3o. Feita a justi\u00e7a, gravavam suas senten\u00e7as, chegado o dia, sobre uma t\u00e1bua de ouro, que consagram, como recorda\u00e7\u00e3o, assim como suas roupas.<\/em><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

O isolamento em que o deus quis deixar a cidade, infranque\u00e1vel a navios, foi rompido pelos descendentes:<\/p>\n\n\n\n
\n

Recolhendo sobre seu solo todas essas riquezas, os habitantes da Atl\u00e2ntida constru\u00edram templos, os pal\u00e1cios dos reis, os portos, as docas secas, e embelezaram assim todo o resto do pa\u00eds na seguinte ordem. Sobre os bra\u00e7os de mar circulares, que rodeavam a velha cidade materna, logo lan\u00e7aram pontes e abriram uma rota para fora e para as moradas reais. (…) Fizeram, come\u00e7ando pelo mar, um canal de tr\u00eas pletros <\/em>(100 metros) de largura, cem p\u00e9s <\/em>(30 metros) de profundidade e cinquenta est\u00e1dios <\/em>(dez quil\u00f4metros) de comprimento, e levaram-no at\u00e9 o bra\u00e7o de mar circular mais exterior. Para as naus vindas de alto-mar, abriram uma entrada, como num porto. A\u00ed abriram uma enseada, suficiente para que os grandes navios pudessem penetrar.<\/em><\/p>\n<\/td>\n

\"TemploPoseidon\"<\/a><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

A maior das barreiras de \u00e1gua, aquela onde penetra o mar, tem largura de tr\u00eas est\u00e1dios <\/em>(600 metros), e a de terra que se lhe seguia tem igual largura. No segundo c\u00edrculo, a barreira de \u00e1gua tem dois est\u00e1dios <\/em>(400 metros) largura e a barreira de terra tem ainda uma largura igual. Mas a barreira de \u00e1gua que rodeia imediatamente a ilha central tem s\u00f3 um est\u00e1dio <\/em>(200 metros). A ilha, na qual se encontrava o pal\u00e1cio dos reis, tem um di\u00e2metro de cinco est\u00e1dios <\/em>(um quil\u00f4metro). A ilha, as barreiras e a ponte – que tinha a largura de um pletro <\/em>(33 metros) – circundavam inteiramente de um muro de pedra circular. Puseram torres e portas sobre as pontes em todos os lugares por onde passava o mar. Tomaram a pedra necess\u00e1ria de sob a periferia da ilha central e de sob as barreiras, no exterior e no interior. Havia da branca, da negra e da vermelha. <\/em><\/p>\n

Ao mesmo tempo que extra\u00edam a pedra, cavaram dentro da ilha duas bacias para navios, com o pr\u00f3prio rochedo como teto. E, das constru\u00e7\u00f5es, umas s\u00e3o simples, e em outras, misturam as esp\u00e9cies de pedras e variam as cores, para o prazer dos olhos, e d\u00e3o-lhes desta maneira uma apar\u00eancia naturalmente apraz\u00edvel. O muro que rodeia a barreira mais externa foi revestido, em toda a volta, de cobre, que lhe serviu de reboco. Recobriram de estanho fundido a barreira interior e, quanto \u00e0quela que rodeava a pr\u00f3pria Acr\u00f3pole, guarneceram-na de oricalco, que tem reflexos de fogo.<\/em><\/p>\n

Constru\u00eddas como barreiras para separar e proteger Clito e sua descend\u00eancia do mundo exterior, os c\u00edrculos de terra e \u00e1gua passaram a ser canal de comunica\u00e7\u00e3o e abrigo para os pal\u00e1cios os ex\u00e9rcitos e as frotas de Atl\u00e2ntida: nos obst\u00e1culos de terra que separavam os c\u00edrculos d’\u00e1gua, na altura das pontes, abriram passagens, tais que s\u00f3 uma trirreme pudesse passar de um c\u00edrculo para outro, e cobriram essas passagens com tetos, t\u00e3o bem que a navega\u00e7\u00e3o a\u00ed era subterr\u00e2nea, pois os parapeitos dos c\u00edrculos de terra se elevam suficientemente acima do mar.<\/em><\/p>\n

Plat\u00e3o descreve em detalhes a ocupa\u00e7\u00e3o dos c\u00edrculos e, em especial, o templo de Pos\u00eddon<\/u><\/a> constru\u00eddo no centro:<\/p>\n

O pal\u00e1cio real, no interior da Acr\u00f3pole tinha a seguinte disposi\u00e7\u00e3o. No meio da Acr\u00f3pole, elevava-se o templo consagrado, nesse mesmo lugar, a Clito e a <\/em>Pos\u00eddon<\/u><\/em><\/a>. O acesso era interditado, e era rodeado de um fecho de ouro. Foi l\u00e1 que de in\u00edcio Clito e Pos\u00eddon conceberam e deram \u00e0 luz a ra\u00e7a dos dez chefes das dinastias reais. L\u00e1, a cada ano, vinha-se das dez prov\u00edncias do pa\u00eds oferecer a cada um desses deuses os sacrif\u00edcios da esta\u00e7\u00e3o.<\/em><\/p>\n

O santu\u00e1rio pr\u00f3prio de Pos\u00eddon tinha o comprimento de um est\u00e1dio <\/em>(200 metros), a largura de tr\u00eas pletros <\/em>(100 metros) e uma altura proporcionada. Sua apar\u00eancia tinha algo de b\u00e1rbaro. Revestiram de prata todo o exterior do santu\u00e1rio, exceto as arestas de espig\u00e3o, e estas arestas eram de ouro. No interior, a cobertura era toda de marfim e inteiramente ornada de ouro, prata e oricalco. Os muros, as colunas, o pavimento, guarneceram-no de oricalco. A\u00ed colocaram est\u00e1tuas de ouro: o deus de p\u00e9 sobre seu carro, atrelado com seis cavalos alados, e era t\u00e3o grande que o cimo de sua cabe\u00e7a tocava o teto. Em c\u00edrculo, em torno dele, cem nereidas sobre delfins. Havia tamb\u00e9m no interior grande quantidade de est\u00e1tuas outras, oferecidas por particulares. Em torno do santu\u00e1rio, no exterior, erguiam-se, em ouro, as ef\u00edgies de todas as mulheres dos dez reis e de todos os descendentes que engendraram, e numerosas outras grandes est\u00e1tuas votivas de reis e de particulares, origin\u00e1rias da cidade mesma, ou de pa\u00edses estrangeiros sobre os quais tinham soberania. Por suas dimens\u00f5es e por seu trabalho, o altar respondia a esse esplendor, e o pal\u00e1cio real era proporcionado \u00e0 grandeza do imp\u00e9rio e \u00e0 riqueza dos ornamentos do santu\u00e1rio.<\/em><\/p>\n

Quanto aos mananciais, o de \u00e1gua fria e o de \u00e1gua quente, ambos de generosa abund\u00e2ncia e maravilhosamente adequados para uso, pela amenidade e virtudes de suas \u00e1guas, eles os utilizavam, dispondo em torno deles constru\u00e7\u00f5es e planta\u00e7\u00f5es apropriadas \u00e0 natureza das \u00e1guas. Instalavam em redor tanques, uns a c\u00e9u aberto, outros cobertos, destinados aos banhos quentes no inverno: havia, separados, os banhos reais e os dos particulares, outros para as mulheres, para os cavalos e para as outras alim\u00e1rias, cada um com a decora\u00e7\u00e3o apropriada.<\/em><\/p>\n

A \u00e1gua da\u00ed proveniente, conduziam-na ao bosque sagrado de Pos\u00eddon. Este bosque, gra\u00e7as \u00e0 virtude do solo, compreendia \u00e1rvores de todas as ess\u00eancias, de beleza e altura divinas. Da\u00ed, faziam correr a \u00e1gua para as barreiras exteriores por canaliza\u00e7\u00f5es constru\u00eddas ao longo das pontes. <\/em><\/p>\n

Desse lado, foram constru\u00eddos numerosos templos para muitos deuses e jardins e gin\u00e1sios para os homens, e picadeiros para os cavalos. Estes foram constru\u00eddos \u00e0 parte nas ilhas anulares, formadas pelas barreiras. Dentre outros, para o meio da maior das ilhas, reservavam, para as corridas de cavalos, um picadeiro da largura de um est\u00e1dio e o bastante longo para permitir aos cavalos fazer, na corrida, a volta completa da barreira. Em derredor, por toda a extens\u00e3o, a dist\u00e2ncias regulares, havia casernas para quase todo o efetivo da guarda do imperador. O melhor corpo de tropa estava alojado na menor das barreiras, a mais pr\u00f3xima da Acr\u00f3pole. E para aqueles que se distinguiam dentre todos por sua fidelidade, foram-lhes afetados alojamentos no interior da Acr\u00f3pole, perto do pal\u00e1cio imperial. Os arsenais estavam plenos de navios de guerra e todos os acess\u00f3rios necess\u00e1rios para arm\u00e1-las, e o todo era postado em perfeita ordem. <\/em><\/p>\n

Enquanto o pal\u00e1cio e suas depend\u00eancias ocupavam a ilha original e suas barreiras, a cidade propriamente dita crescia para al\u00e9m dos limites da \u00faltima barreira, ocupando uma \u00e1rea com cerca de dez quil\u00f4metros de raio:<\/p>\n

Quando se atravessavam as portas exteriores, em n\u00famero de tr\u00eas, encontrava-se uma muralha circular, come\u00e7ando pelo mar, e mantendo a dist\u00e2ncia de cinquenta est\u00e1dios <\/em>(dez quil\u00f4metros) da maior barreira, que formava o maior porto. Esta muralha vinha se fechar sobre si mesma na garganta do canal que se abria do lado do mar. Era totalmente coberta de numerosas casas, umas ao lado das outras. Quanto ao canal e ao porto principal, regurgitavam de naus e mercadores vindos de todos os lugares. Sua multid\u00e3o causava a\u00ed, dia e noite, um cont\u00ednuo burburinho de vozes, um tumulto incessante e diverso.<\/em><\/p>\n

O interior de Atl\u00e2ntida<\/strong><\/p>\n

Junto \u00e0 cidade, estendia-se uma vasta plan\u00edcie retangular de 600 quil\u00f4metros de comprimento e 400 quil\u00f4metros de largura a partir do mar, que foi circundada por um fosso. Conforme escreveu Plat\u00e3o, quanto \u00e0 profundidade, largura e desenvolvimento deste fosso, o que se diz \u00e9 dif\u00edcil de crer. \u00c9 dif\u00edcil acreditar que uma obra sa\u00edda das m\u00e3os do homem tenha tido, por compara\u00e7\u00e3o aos outros trabalhos desse g\u00eanero, tais dimens\u00f5es. Foi cavado com trinta metros de profundidade e sua largura \u00e9 constante, de duzentos metros. Como \u00e9 cavado em torno de toda a plan\u00edcie, seu comprimento \u00e9 de dois mil quil\u00f4metros. Recebe os cursos d’\u00e1gua que descem das montanhas, faz a volta \u00e0 plan\u00edcie, retorna de um e de outro lado para a cidade, e de l\u00e1, esvazia-se no mar.<\/em><\/p>\n

Da parte mais alta desse fosso, canais retil\u00edneos, com a largura aproximada de trinta metros, cortavam a plan\u00edcie, indo juntar-se ao fosso, perto do mar. Cada um deles distava dos outros vinte quil\u00f4metros. Para carregar para a cidade a madeira da montanha, e para levar, de barco, os outros produtos de esta\u00e7\u00e3o, cavaram-se, a partir dos canais, deriva\u00e7\u00f5es naveg\u00e1veis, de dire\u00e7\u00e3o obl\u00edqua umas em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s outras e em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 cidade. Seus habitantes colhiam duas vezes por ano os produtos da terra: no inverno, utilizavam as \u00e1guas do c\u00e9u; no ver\u00e3o, as que a terra dava, dirigindo sua corrente para fora dos canais.<\/p>\n

A plan\u00edcie foi dividida em distritos com a extens\u00e3o de dois quil\u00f4metros por dois, dos quais havia, no total, sessenta mil. Cada distrito fornecia um chefe de destacamento. Cada chefe de destacamento era respons\u00e1vel por fornecer para a guerra um sexto dos carros de combate, somando dez mil carros; dois cavalos e seus cavaleiros, ou uma parelha de cavalos sem carro, comportando um combatente montado encarregado de conduzir os dois cavalos, dois hoplitas; dois arqueiros; dois fundibul\u00e1rios; tr\u00eas infantes ligeiros armados de atiradeiras; tr\u00eas outros armados de dardos, e enfim, quatro marinheiros, para completar a equipagem de mil e duzentos navios. A plan\u00edcie, portanto, contribu\u00eda para as for\u00e7as armada com 120 mil cavalos, 840 mil soldados e 240 mil marinheiros.<\/p>\n

Esta regi\u00e3o estava orientada com a face para o Sul, e ao abrigo dos ventos do Norte. As montanhas que a rodeavam ultrapassavam em beleza quaisquer outras deste mundo. Havia nessas montanhas numerosas cidades, ricas em habitantes, rios, lagos, prados capazes de alimentar inumer\u00e1veis bestas selvagens ou animais dom\u00e9sticos, florestas em t\u00e3o grande n\u00famero e ess\u00eancias t\u00e3o variadas que davam em abund\u00e2ncia materiais pr\u00f3prios para todos os trabalhos poss\u00edveis. Os habitantes das montanhas e do resto do pa\u00eds tamb\u00e9m eram em n\u00famero imenso, e todos, segundo suas localiza\u00e7\u00f5es e as cidades, eram repartidos entre os distritos e sob o comando de seus chefes de destacamento.<\/p>\n

A Atenas pr\u00e9-hist\u00f3rica<\/strong><\/p>\n\n\n\n
\"Attica\"<\/a><\/p>\n

Mapa da \u00c1tica no per\u00edodo cl\u00e1ssico<\/td>\n

A maior parte dos que se interessam pela Atl\u00e2ntida de Plat\u00e3o negligenciam completamente a descri\u00e7\u00e3o que Plat\u00e3o tamb\u00e9m d\u00e1 da Atenas dessa \u00e9poca, embora ela seja dada antes da descri\u00e7\u00e3o de Atl\u00e2ntida e seja igualmente fundamental para o entendimento do mito. Sinal de que o fil\u00f3sofo fracassou em seu prop\u00f3sito did\u00e1tico: fascinados pelas maravilhas naturais e arquitet\u00f4nicas que Plat\u00e3o atribuiu \u00e0 Atl\u00e2ntida, os leitores deixaram de lado a pequena, s\u00f3bria e virtuosa Atenas que saiu vitoriosa de seu relato. Deixaram de tirar a pretendida li\u00e7\u00e3o de \u00e9tica e pol\u00edtica e, pelo contr\u00e1rio, identificaram-se com a corrupta, luxuosa e imperialista Atl\u00e2ntida.<\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

Segundo o relato de Plat\u00e3o, a cidade de Atenas coube, na partilha, a Atena e Hefesto, ou seja, \u00e0 sabedoria e \u00e0 t\u00e9cnica, ao pensamento e ao trabalho. De comum acordo, os dois deuses a povoaram de aut\u00f3ctones – ou seja, de humanos nascidos ou criados do pr\u00f3prio solo.<\/p>\n

A maior parte dos que se interessam pela Atl\u00e2ntida de Plat\u00e3o negligenciam completamente a descri\u00e7\u00e3o que Plat\u00e3o tamb\u00e9m d\u00e1 da Atenas dessa \u00e9poca, embora ela seja dada antes da descri\u00e7\u00e3o de Atl\u00e2ntida e seja igualmente fundamental para o entendimento do mito. Sinal de que o fil\u00f3sofo fracassou em seu prop\u00f3sito did\u00e1tico: fascinados pelas maravilhas naturais e arquitet\u00f4nicas que Plat\u00e3o atribuiu \u00e0 Atl\u00e2ntida, os leitores deixaram de lado a pequena, s\u00f3bria e virtuosa Atenas que saiu vitoriosa de seu relato. Deixaram de tirar a pretendida li\u00e7\u00e3o de \u00e9tica e pol\u00edtica e, pelo contr\u00e1rio, identificaram-se com a corrupta, luxuosa e imperialista Atl\u00e2ntida.<\/p>\n

Segundo o relato de Plat\u00e3o, a cidade de Atenas coube, na partilha, a Atena e Hefesto, ou seja, \u00e0 sabedoria e \u00e0 t\u00e9cnica, ao pensamento e ao trabalho. De comum acordo, os dois deuses a povoaram de aut\u00f3ctones – ou seja, de humanos nascidos ou criados do pr\u00f3prio solo.<\/p>\n

Nessa Atenas, os homens e as mulheres tinham direitos e deveres iguais, inclusive em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 guerra: a representa\u00e7\u00e3o de Atena armada seria uma lembran\u00e7a disso. Enquanto a maioria dos cidad\u00e3os trabalhava no campo ou nos of\u00edcios, a classe dos guerreiros vivia \u00e0 parte, possuindo em comunidade tudo o que necessitava para viver e recebendo dos demais cidad\u00e3os um sal\u00e1rio moderado na forma de sua alimenta\u00e7\u00e3o anual para proteger a cidade.<\/p>\n

Plat\u00e3o acrescenta que desempenhavam todas as fun\u00e7\u00f5es que descrevera ao falar dos “guardi\u00e3es que hav\u00edamos imaginado”, ou seja, na cidade ideal de A Rep\u00fablica<\/em>. Os melhores dentre a classe dos guerreiros eram escolhidos para serem os guardi\u00e3es. Depois de completarem o estudo de gin\u00e1stica e m\u00fasica dado a todos, estudavam filosofia por cinco anos e depois retornavam \u00e0 vida militar por quinze anos para, aos 50 anos, entrar na classe governante e passar a ter no poder sua \u00fanica posse.<\/p>\n

O casamento, portanto, era coletivo, assim como o cuidado das crian\u00e7as. As uni\u00f5es sexuais eram determinadas por sorteio (na realidade, manipulado pelos guardi\u00e3es para que os melhores tivessem filhos com as melhores) e eram tomadas precau\u00e7\u00f5es para que ningu\u00e9m soubesse de quem era pai, de maneira que todos se vissem com pais, m\u00e3es, irm\u00e3os ou filhos. As crian\u00e7as que fossem julgadas indignas da classe dos guerreiros seriam entregues aos demais cidad\u00e3os para serem criadas.<\/p>\n

Esses guardi\u00e3es cuidavam para que o n\u00famero das mulheres e dos homens capazes de portar armas fosse sempre o mesmo, ao redor de uns vinte mil. Segundo Plat\u00e3o, eram conhecidos em toda a Europa e \u00c1sia pela beleza de seus corpos e pela virtude de suas almas e eram os l\u00edderes livremente aceitos de toda a H\u00e9lade.<\/p>\n

As fronteiras de seu pa\u00eds se estendiam do istmo de Corinto ao C\u00edteron e ao Parnes, abarcando Oropia, mas deixando de fora o rio Asopo – ou seja, algo maior que extens\u00e3o tradicional da \u00c1tica, o territ\u00f3rio da cidade-estado de Atenas (que n\u00e3o incluia Oropia, nem alcan\u00e7ava o Istmo). Naqueles tempos, segundo Plat\u00e3o, a terra desse pa\u00eds era muito mais f\u00e9rtil, capaz de alimentar um grande ex\u00e9rcito e isent\u00e1-lo do trabalho da terra. Quatro dil\u00favios, ao longo de nove mil anos, haviam carregado suas terras “gordas e macias” para o mar, deixando como que “um esqueleto de um corpo desgastado pela enfermidade”, um espinha\u00e7o rochoso. O campo de Feleo, que no tempo de Plat\u00e3o era apenas um terreno pedregoso, havia sido coberto de ricas glebas. Sobre as montanhas onduladas, havia extensos bosques, desaparecidos na \u00e9poca em que Plat\u00e3o escrevia. A \u00e1gua das chuvas n\u00e3o se perdia no mar depois de correr sobre a terra est\u00e9ril, mas se acumulava nos leitos argilosos de onde corria na forma de rios e fontes.<\/p>\n\n\n\n
A Acr\u00f3pole, que no tempo de Plat\u00e3o era o morro onde se localizava o P\u00e1rtenon, era ent\u00e3o uma ampla plataforma plana e estendia-se “at\u00e9 o Er\u00eddano e o Iliso, compreendia a Pnix e, pela parte oposta \u00e0 Pnix, estava limitada pelo monte Licabeto”, ou seja, abrangia aproximadamente a \u00e1rea de toda a cidade de Atenas de seu tempo. Uma s\u00f3 noite de dil\u00favio, o o terceiro antes da cat\u00e1strofe de Deucali\u00e3o, teria desnudado a \u00e1rea, deixando apenas a colina que mais tarde serviu de fortaleza a Atenas, antes de se tornar um santu\u00e1rio.<\/td>\n\"Acropolis\"<\/a><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

A periferia e as encostas da Acr\u00f3pole estavam habitadas pelos artes\u00e3os e agricultores que cultivavam os campos ao redor. A parte superior era ocupada apenas pelos guerreiros, que viviam \u00e0 parte, em torno do santu\u00e1rio de Atena e Hefesto. Haviam levantado a seu redor um recinto \u00fanico, como em torno do jardim de uma s\u00f3 resid\u00eancia. Dentro dela moravam na parte exposta ao norte, em alojamentos comunit\u00e1rios, nos quais haviam instalado refeit\u00f3rios para o inverno. Tinham tudo que precisavam, mas n\u00e3o ouro ou prata, dos quais n\u00e3o se serviam. Mantinham-se eq\u00fcidistantes da abund\u00e2ncia excessiva e da pobreza servil, em moradias graciosas e bonitas que transmitiam a seus descendentes.<\/p>\n

Na parte exposta ao sul, havia jardins, gin\u00e1sios e refeit\u00f3rios, que abandonavam durante a esta\u00e7\u00e3o quente. No lugar onde se ergueria a Acr\u00f3pole, havia uma grande fonte \u00fanica que abastecia a todos com uma \u00e1gua generosa e igualmente sadia no ver\u00e3o e no inverno. Desta fonte, no tempo de Plat\u00e3o, restavam apenas pequenas bicas dispostas em c\u00edrculo.<\/p>\n

Essas institui\u00e7\u00f5es teriam inspirado as de Sais, que no tempo de Plat\u00e3o era a capital do Egito. Essa capital seria mil anos mais jovem que essa Atenas pr\u00e9-hist\u00f3rica, da qual teria tomado as artes e ci\u00eancias, a separa\u00e7\u00e3o das classes em castas fechadas (sacerdotes, artes\u00e3os, pastores, ca\u00e7adores, agricultores e soldados) e a forma dos armamentos, escudos e lan\u00e7as.<\/p>\n

Isto permite a seguinte compara\u00e7\u00e3o entre a Atenas pr\u00e9-hist\u00f3rica e Atl\u00e2ntida:<\/p>\n\n\n\n\n<\/colgroup>\n\n\n\n\n\n\n\n
aspecto<\/strong><\/td>\nAtenas pr\u00e9-hist\u00f3rica<\/strong><\/td>\nAtl\u00e2ntida<\/strong><\/td>\n<\/tr>\n
divindades protetoras<\/strong><\/td>\nAtena e Hefesto que “concordam no mesmo amor das ci\u00eancias e das t\u00e9cnicas”<\/td>\nPos\u00eddon, deus do mar, do poder e do com\u00e9rcio mar\u00edtimo<\/td>\n<\/tr>\n
origem<\/strong><\/td>\nAut\u00f3ctones, nascidos iguais e que se relacionavam como irm\u00e3os em uma cidade-estado republicana<\/td>\nReis nascidos do intercurso de Pos\u00eddon com uma mortal, separando-se pelo sangue divino da massa dos s\u00faditos<\/td>\n<\/tr>\n
economia<\/strong><\/td>\nAgricultura e artesanato; riquezas limitadas, produ\u00e7\u00e3o em fun\u00e7\u00e3o das necessidades, auto-sufici\u00eancia<\/td>\nPoder mar\u00edtimo e com\u00e9rcio exterior, profus\u00e3o de recursos naturais aos quais se junta um colossal desenvolvimento econ\u00f4mico e urban\u00edstico (portos, canais, arsenais) e os tributos de um imp\u00e9rio ultramarino.<\/td>\n<\/tr>\n
cidade<\/strong><\/td>\nDe propor\u00e7\u00e3o m\u00e9dia, equilibrada nas suas constru\u00e7\u00f5es, limitada nas suas necessidades, sua lideran\u00e7a \u00e9 livremente aceita pelos vizinhos.<\/td>\nImenso imp\u00e9rio insular, progressivamente ganho por uma sede de conquista e avidez de hegemonia.<\/td>\n<\/tr>\n
sociedade<\/strong><\/td>\nSepara\u00e7\u00e3o rigorosa das classes, de acordo com o modelo de A Rep\u00fablica<\/em>.<\/td>\nClasses progressivamente pervertidas pelo gosto do dinheiro e do poder.<\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

O destino de Atl\u00e2ntida<\/strong><\/p>\n\n\n\n
\"\"<\/a><\/p>\n

 <\/td>\n

Este \u00e9 o final do Cr\u00edtias<\/em>:<\/p>\n

Durante numerosas gera\u00e7\u00f5es, e enquanto dominou nelas a natureza divina, os reis <\/em>(de Atl\u00e2ntida) escutaram as leis e permaneceram ligados ao princ\u00edpio divino, com o qual tinham parentesco. Os seus pensamentos eram verdadeiros e grandes em tudo; usavam de bondade e tamb\u00e9m de discernimento em presen\u00e7a dos acontecimentos que sucediam e uns em rela\u00e7\u00e3o aos outros. <\/em><\/p>\n<\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

Assim, desdenhosos de todas as coisas para al\u00e9m da virtude, faziam pouco caso dos seus bens: transportavam como um fardo a massa do seu ouro e das suas outras riquezas, n\u00e3o se deixavam embriagar pelo excesso de sua fortuna, n\u00e3o perdiam o dom\u00ednio sobre si mesmos e caminhavam retamente.<\/em><\/p>\n

Com uma clarivid\u00eancia aguda e l\u00facida, viam bem que todas estas vantagens aumentam pelo afeto rec\u00edproco unido \u00e0 virtude, que, pelo contr\u00e1rio, o zelo excessivo para com estes bens e a estima que por eles se tem fazem com que eles pr\u00f3prios se percam, e que tamb\u00e9m a virtude pere\u00e7a com eles. Por efeito deste pensamento e gra\u00e7as \u00e0 presen\u00e7a permanente do princ\u00edpio divino neles, todos os bens que acabamos de enumerar n\u00e3o cessavam de crescer em seu proveito.<\/em><\/p>\n

Mas, quando o elemento divino come\u00e7ou a diminuir neles, por efeito do cruzamento repetido com numerosos elementos mortais, quado dominou o car\u00e1ter humano, ent\u00e3o, incapazes da\u00ed em diante de suportar sua prosperidade presente, ca\u00edram na indec\u00eancia. Pareceram disformes aos olhos dos homens clarividentes, que tinham deixado perder os mais belos dos bens mais preciosos. Pelo contr\u00e1rio, aos olhos de quem n\u00e3o sabe discernir que g\u00eanero de vida contribui verdadeiramente para a felicidade, foi ent\u00e3o que pareceram perfeitamente belos e bem-aventurados, cheios como estavam de avidez injusta e de poder. E o deus dos deuses, Zeus, que reina pelas leis, e que certamente tinha o poder de conhecer todos esses fatos, compreendeu que disposi\u00e7\u00f5es miser\u00e1veis tomava esta ra\u00e7a, cujo car\u00e1ter primitivo havia sido t\u00e3o excelente. Quis aplicar-lhes um castigo, a fim de os fazer refletir e de os reconduzir a uma maior modera\u00e7\u00e3o. Para este efeito, reuniu todos os deuses, na sua mais nobre morada: esta situa-se no centro do Universo e v\u00ea do alto tudo o que participa do Devir. E tendo-os reunido, disse:<\/em><\/p>\n

Assim termina o relato, que Plat\u00e3o deixou incompleto por raz\u00f5es desconhecidas. Entretanto, o livro anterior, o Timeu<\/em>, havia antecipado parte da hist\u00f3ria que o fil\u00f3sofo deixou de desenvolver. A Atl\u00e2ntida, que j\u00e1 dominava sua pr\u00f3pria ilha, muitas outras ilhas do Oceano, partes do continente do outro lado do oceano e inda a L\u00edbia at\u00e9 o Egito e a Europa at\u00e9 a Tirr\u00eania (Etr\u00faria ou Toscana, parte ocidental da It\u00e1lia), concentrando mais uma vez suas for\u00e7as, tentou subjugar a Gr\u00e9cia e o Egito e assim dominar a totalidade da bacia do Mediterr\u00e2neo.<\/p>\n

A cidade de Atenas, entretanto, fez brilhar aos olhos de todos seu hero\u00edsmo e sua energia. Primeiro \u00e0 cabe\u00e7a de todos os helenos, depois abandonada pelos demais, \u00e0 beira dos maiores perigos, acabou por vencer os invasores, preservou da escravid\u00e3o aos que nunca haviam sido escravos e libertou a todos os demais povos do interior das Colunas de H\u00e9rcules, inclusive os eg\u00edpcios. Entretanto, no per\u00edodo subseq\u00fcente, houve terr\u00edveis terremotos e cataclismas. Durante um dia e uma noite horr\u00edveis, todo o ex\u00e9rcito de Atenas foi tragado de um s\u00f3 golpe pela terra e a ilha de Atl\u00e2ntida afundou no mar e desapareceu. “Por isso, ainda hoje esse mar \u00e9 dif\u00edcil e inexplor\u00e1vel, devido a seus fundos barrentos e muito rasos que a ilha deixou ao afundar-se”.<\/p>\n

Refer\u00eancias <\/strong><\/p>\n

    \n
  • Pierre Vidal-Naquet, Os Gregos, os Historiadores e a Democracia<\/em>. S\u00e3o Paulo: Cia. das Letras, 2002.<\/li>\n
  • Plat\u00e3o, Obras Completas<\/em>. Madrid: Aguilar, 1990.<\/li>\n
  • Genevi\u00e8ve Droz, Os Mitos Plat\u00f3nicos<\/em>. Lisboa, Publica\u00e7\u00f5es Europa-Am\u00e9rica, 1993.<\/li>\n
  • L. Sprague de Camp, Continentes Perdidos<\/em>. Lisboa, Livros do Brasil, s\/d<\/li>\n
  • Bernard Suzanne, Plato and his dialogues<\/em> [1]<\/u><\/li>\n
  • W. Scott-Elliot, Atl\u00e2ntida e Lem\u00faria, Continentes Desaparecidos<\/em>. S\u00e3o Paulo: Pensamento, 1995<\/li>\n
  • Annie Besant e C. W. Leadbeater, O Homem: donde e como veio, e para onde vai?<\/em>. S\u00e3o Paulo: Pensamento, 1995.<\/li>\n
  • Geoffrey Ashe, A Atl\u00e2ntida<\/em>, Rio de Janeiro: Fernando Chinaglia, 1996.<\/li>\n
  • Stephen E Franklin, “Alignment of Hebrew, Egyptian, and Assyrian Chronologies: The Origin and Solution of the Problem [2]<\/u><\/li>\n
  • Frederick S. Oliver, A Dweller on Two Planets<\/em> [3]<\/u><\/li>\n
  • Historic Atlantis in Bolivia [4]<\/u><\/li>\n
  • Atlantis, the Lost Continent Finally Found [5]<\/u><\/li>\n
  • William Almeida de Carvalho, “Tsunami e Atl\u00e2ntida: Uma Revolu\u00e7\u00e3o Moderna no Conhecimento da Atl\u00e2ntida” [6]<\/u><\/li>\n
  • Chat com Arysio Nunes dos Santos<\/li>\n<\/ul>\n

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    A Atl\u00e2ntida narrada em “Cr\u00edtias” por Plat\u00e3o, afirmando a sua exist\u00eancia. O mundo descrito por Plat\u00e3o no Timeu e no Cr\u00edtias. A ilha de Pos\u00eddon foi representada aqui com cerca de 7,5 milh\u00f5es de km\u00b2 (aproximadamente o tamanho da Austr\u00e1lia), procurando refletir o que Plat\u00e3o provavelmente tinha em mente com “maior que a L\u00edbia e […]<\/p>\n","protected":false},"author":5,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[125],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/anelatlante.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2182"}],"collection":[{"href":"https:\/\/anelatlante.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/anelatlante.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/anelatlante.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/5"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/anelatlante.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2182"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/anelatlante.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2182\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/anelatlante.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2182"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/anelatlante.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2182"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/anelatlante.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2182"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}